Estremoz acordou hoje mentalizada que iria enterrar mais um filho da terra. Filho esse ainda na força da idade (33 anos), levado por um estúpido acidente que possivelmente nunca iremos saber as causas, quem poderia esclarecer infelizmente já partiu. Era difícil, eu diria mesmo quase impossível, não se gostar de uma pessoa com o carater e com a personalidade como tinha o Valter…Xuma, Xuma Baby, Mano, como lhe quiserem chamar. Se tinha inimigos? eu desconhecia…mas tive o enorme privilégio de o conhecer, de jogar e conviver com ele, pena ter sido por tão pouco tempo!!! “Todo o mal que ele fez, foi só para ele”…ouvi esta frase inúmeras vezes desde a notícia da sua morte e isso espelha o enorme ser humano que ele era. De entre todas as dificuldades que tive em lidar com esta situação, queria destacar o “como” tentei proteger os meus filhos (de 3 e 8 anos) de forma a que eles não se apercebessem da minha (nossa) dor. Numa conversa entre dentes com a minha esposa, reparei que o mais velho estava a tentar perceber o que se estava a passar, tendo eu disfarçado e lhe dito que se tratava de conversas de adultos…”eu quero saber, porque o Xuma também é meu amigo!”...foi a sua resposta. E eu posso confirmar, pois o Xuma adorava crianças e adorava os meus filhos assim comos os filhos dos meus amigos…e os putos adoravam-no a ele…admiravam-no e vão sentir tanta falta dele como nós. A nível desportivo poderia ter ido mais longe, se tivesse tido a “sorte” de ter tido “alguém” que lhe desse um empurrãozinho para outros clubes de maior dimensão estou convencido que vingaria. “O Valter começou a jogar a defesa direito ou médio direito já não me recordo, mas um dia viu na brincadeira com os colegas a defender à baliza e disse-lhe que ele poderia ser um grande guarda-redes…e não me enganei”…desabafo de um dos seus primeiros treinadores, Humberto Frade, aquando de uma conversa comigo ontem. Tive o privilégio de jogar com ele durante muitos anos e nunca o vi virar a cara à luta, fosse jogos a sério ou a brincar. Nos treinos tantas vezes que o vi “bruto” por alguns dos seus e meus colegas não estarem a levar o treino a sério. A sua entrega era tanta nos jogos, que tive imensa dificuldade em encontrar uma foto dele a esboçar um sorriso como aquela que publiquei no blogue a informar do seu falecimento, e nesse jogo ele nem jogou, talvez por isso o conseguiram apanhar com aquele ar descontraído e sorridente que sempre nos habitou fora das quatro linhas. As palavras “amizade” e “tristeza” têm muito significado mas não deveriam estar associadas, contudo hoje estiveram. Hoje ficou mais uma vez provado que o Xuma fazia amizades por onde passava, era respeitado e admirado. Foi transportado em MÃOS por todos aqueles que fizeram questão e tiveram “forças” para o fazer. Ficam na memória algumas palavras ou frases que só ele sabia inventar: “Xuma Baby”, “Tigra Baby”, “…o pai dele é minha tia…”, “…Tá-se bem mano”, etc,etc,etc…
Pensava que iria envelhecer contigo, que eras daqueles que são imortais, mas…não há imortais e que a tua morte sirva de exemplo para todos nós, porque eu não quero perder mais nenhum dos meus “meninos”.
O Xuma foi enterrado hoje, Dia Internacional do Amigo…eu não acredito em coincidências.
Obrigado por tudo…
O teu mano “José Frade”